quinta-feira, 21 de abril de 2011

Play the game, don't play the score

A expressão acima é utilizada amplamente pelos americanos. Pode ser traduzida como "jogue o jogo, não jogue o placar".

Acho que todo esgrimista já ouviu de seu técnico para jogar um toque de cada vez, mas é impressionante como vemos gente experiente mudando completamente a sua maneira de jogar de acordo com o que mostra o placar do match.

Este talvez tenha sido o fato que mais me marcou observando a primeira prova nacional do ano no Rio de Janeiro. Gente que está rodando o circuito há bastante tempo, que sabe do perigo de perder o controle em pista, simplesmente se atira à frente, aparentemente sem qualquer estratégia, só pela suposta urgência de buscar o placar adverso.

Quem está ganhando também cai na armadilha. Gente que se apressa para fechar o combate, ou que fica passivo demais diante de uma grande vantagem construida.

Por mais que a tentação seja grande para seguir o instinto e jogar de acordo com o que mostra o placar, é preciso ter equilíbrio emocional e simplesmente "jogar o jogo". Se ele não está lhe favorecendo até aqui, buscar maneiras racionais de mudar. Se uma ação está dando certo e lhe deu uma confortável vantagem no marcador, insista nela até que o adversário a anule.

Enfim, jogue o jogo, não jogue o placar.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Antídotos contra "patroladores"

Uma das dificuldades que os brasileiros encontram quando enfrentam os floretistas do mais alto nível é a sensação de impotência diante de adversários que gostam de "patrolar", ou seja, aquele esgrimista que sai da linha de guarda direto para a perseguição, com extrema precisão de ponta que elimina a simples entrada na preparação como alternativa.

Para buscar estratégias interessantes de "frear" este tipo de adversário, fui buscar um vídeo da semifinal do Mundial Juvenil do ano passado, entre Meinhardt e Lari. Os dois têm esta característica extremamente ofensiva, portanto ambos teriam que encontrar maneiras de se defender quando o outro tomasse a iniciativa.



- No primeiro toque do Meinhardt, dá para ver o efeito que uma simples ida à frente com um ataque falso pode fazer. Não é necessário atacar para tocar, mas só o fato de iniciar uma perseguição desperta, em um cara que gosta de estar ELE marchando para cima do adversário, a necessidade de partir para o ataque. É aí que ele pode errar o momento da ação ofensiva e atacar quando você está preparado para a parada e resposta, caso evidente do primeiro toque do americano no vídeo.

- A finta de entrada é das soluções mais clássicas. Deem uma olhada no terceiro toque do Lari (ponto 02:49 do vídeo). O Meinhardt persegue e o italiano vai rompendo até que simula (com braço e perna), que vai entrar na preparação. Meinhardt então finaliza imediatamente, facilitando a parada e resposta de Lari.

- Se uma entrada na preparação sem qualquer planejamento é suicídio, ela pode ser útil quando o jogo de pernas provoca o erro do adversário. Veja o que faz Lari no ponto 03:54 do vídeo: logo depois do reinício do combate, os dois esgrimistas dão um salto à frente. Lari então rompe a primeira vez, fazendo Meinhardt acreditar que pode iniciar sua perseguição sem ser incomodado. Aproveitando-se do braço puxado de seu adversário, o italiano surpreende e entra na preparação, algo que só foi possível por ele ter feito Meinhardt acreditar que estava em uma distância segura para iniciar a perseguição.

É claro que a diferença de nosso nível para os grandes floretistas do mundo não é causada apenas por isso, mas acho que essa é uma de nossas principais dificuldades quando saímos do circuito nacional. Aqui, podemos muitas vezes contar com os erros de ponta de nossos adversários e, com isso, não aprendemos a ir para trás sem passividade.

O segredo, na verdade, é aprender a comandar o adversário, mesmo que seja ele quem esteja indo à frente.

sábado, 9 de abril de 2011

Retorno com Baldini x Aspromonte

Bem amigos do Blog do Baiba!

Depois de um longo período sem postagens, me peguei dando uma olhada no blog e vendo que até que ele não é tão ruim assim.

Por isso, resolvi reativá-lo. Afinal, onde mais posso escrever sobre esgrima? Se alguém lê ou não, é outra história.

Para meu retorno, a análise da final do Europeu 2010, entre Baldini e Aspromonte:


A mudança no ritmo do combate promovida pelo Baldini é flagrante. Jogar sem muita iniciativa ofensiva é o comum do ex-número 1 do mundo, mas no primeiro período do combate, ficou claro que o Aspro estava confortável atacando no momento que mais lhe parecia correto, aproveitando-se da passividade de seu adversário.

Após o intervalo (08:20 no vídeo), o Baldini mostrou sua versatilidade ao sair totalmente de sua característica, acelerando o ritmo do combate e tomando a inicativa. Notem que, mesmo assim, ele nem sempre toca de ataque. A iniciativa ofensiva é simplesmente uma maneira de começar a ação tirando o Aspromonte da posição confortável que se encontrava no primeiro tempo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sem identidade

Engraçado que uma pessoa que parece tão firme em suas posições como Mário Sérgio parece mudar de opinião a cada rodada quando se trata da montagem da equipe.

Ainda estou esperando o técnico do Inter repetir uma escalação ou até mesmo um sistema tático desde que ele chegou.

Com Tite, ao menos o Inter tinha identidade, apesar da péssima fase que a equipe se encontrava quando ele foi demitido...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Segunda intenção

Muitas vezes, quando enfrentamos alguém que se sente confortável no fundo da pista e estamos em desvantagem no placar, não sabemos como atacar o adversário com eficiência.

O problema é que é comum pensarmos nas mais diversas maneiras de se tocar em ataque, quando o fato de nosso oponente estar no fundo da pista não impede que nossos toques sejam feitos em outros tipos de ações.

Vejam o exemplo do vídeo abaixo, que mostra os pontos decisivos da final do Challenge Paris de florete masculino deste ano, entre Richard Kruse, da Inglaterra (esquerda) e Petr Joppich, da Alemanha (direita):



Kruse pressiona seu adversário e faz ataques falsos, de segunda intenção. A princípio, sua ideia parece ser a de fazer a reprise de ataque logo após a parada de Joppich, aproveitando que o alemão costuma iniciar a ação com o braço recolhido. O primeiro ponto que aparece no vídeo é assim.

Logo depois, Joppich não deixa seu adversário o levar para o fundo da pista e ataca sobre a marcha de Kruse, que está preparado e arresta com maestria.

Mais adiante, Kruse mostra que está pressionando sem a intenção de tocar em ataque, quando fica em uma distância curta e espera o alemão sair para contra-atacar. Neste ponto, a estratégia falha, já que Joppich só não consegue o toque por ter errado a ponta e acertado na superfície não-válida.

As tentativas de segunda intenção de Kruse finalmente são notadas por Joppich no primeiro ponto do alemão que aparece neste vídeo, no qual ele para o ataque, espera o inglês fazer a reprise de ataque para parar mais uma vez e só depois responder.

Kruse perdeu o combate, mas mostrou que nem sempre a melhor estratégia para quem encurrala o adversário no fundo da pista é tocar de ataque.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Três dentro, três fora

Quem teve infância certamente já presenciou a cena. Você não conseguiu juntar gente suficiente para bater uma bolinha e a solução foi aliciar os poucos soldados que se apresentaram para a batalha em um jogo de três dentro, três fora, aquele em que o gol só vale quando a bola for chutada no ar.

Posso até imaginar Mário Sérgio na preleção do jogo contra o Botafogo instruindo seus atletas a lembrarem da infância e reproduzirem o três dentro, três fora, mesmo que no gramado do Beira-Rio a quantidade de jogadores fosse mais do que suficiente para rolar a bola no chão.

O Inter parece ter achado que só gol de bola aérea valia. Dizem que o Mário Sérgio está reclamando até agora do gol do Botafogo. Foi "gol bobo".

sexta-feira, 30 de outubro de 2009